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Ano
2009
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Localização
Vila Franca de Xira
Intro
Situado numa área periférica de Lisboa, o Centro Cultural do Bom Sucesso surge num contexto social e populacional caracterizado por uma população migratória do interior do país, este cada vez mais desertificado, para a periferia das grandes urbes, para onde se deslocam na procura de melhores condições de vida e por questões de maior oferta laboral.
A estas famílias, hoje numa segunda geração, associam-se a pouco e pouco os familiares mais idosos, que por motivos vários “emigram” para o lar dos filhos, onde acabam por ficar até ao final dos seus dias. São estas pessoas idosas, que encontramos um pouco por toda a área, passando os seus dias entre conversas de café e jogos tradicionais “importados” das suas origens.
A esta complexa estrutura etária de avós, pais e filhos, associa-se uma estrutura urbana tipicamente periférica, fruto de um deficiente planeamento urbanístico, sendo que este edifício cultural, surge neste contexto sócio cultural com o objectivo de promover sob o ponto de vista Cultural, Associativo (Político) e de Lazer esta realidade populacional e urbana.
A matriz conceptual oriunda de uma construção religiosa (antigo convento) que ancestralmente existia neste local, do qual resta ainda a Gruta/ Santuário de S. Romão, e da realidade paisagística mais recente (século passado) no qual estes territórios eram parcialmente cobertas de extensos Olivais (o que se verificava no local de intervenção), constituíram-se como factor de inspiração para a estratégia projectual desta obra.
Assim, a matriz conventual influenciou uma intervenção de distribuição programática muito introspectiva, envolvendo um conjunto de páteos (á semelhança dos antigos claustros), estes que para além de servirem em termos de ventilação natural e lumínica, são estruturantes dos diversos núcleos que os envolvem, estes culturais, associativos e de lazer, aos quais se proporciona desfrutar de variadas paisagens interiores, com vista privilegiada para o céu.
A gruta Santuário que se estende no território de forte declive entre os extremos Norte e Sul, tendo sido também alvo de reabilitação, influenciou quer formalmente a implantação do edificado, reforçando conceptualmente a opção de criar um edifício integralmente no subsolo, fazendo-se á sua semelhança, o acesso pelo arruamento de cota inferior (Rua Fonte de S. Romão).
Um auditório móvel e expansível para o pátio principal, é o espaço central e uma das atracções deste projecto que conta ainda com uma biblioteca, uma área museológica e um bar, para além das demais áreas administrativas necessárias a um edifício com estas características
A opção projectual, surge inequivocamente ainda de uma premissa inicial que permitiu manter/ recuperar a superfície de intervenção quase na sua totalidade como uma área ajardinada, onde se recolocaram as centenárias oliveiras, e onde foram criadas áreas de lazer que incluíram a inserção de alguns jogos tradicionais, tendo em consideração a generalidade da população e especialmente a população mais idosa.
A singular inserção deste objecto Arquitectónico, quer pela localização periférica, quer pelo arranjo conceptual e paisagístico implementado, produziu/ produz lentamente na área envolvente, uma valorização quer cultural, quer imobiliária, o que rapidamente está a ser intuído e apropriado pela população.
Em suma, o objectivo que se perseguiu nesta proposta foi o equilíbrio constante entre espaços abertos e fechados, dando prioridade aos primeiros e à forma como estes se relacionam com a envolvente e com a população. Desta forma estamos convictos de melhor servir a população e de requalificar o espaço de forma efectiva, razão primeira deste projecto. O resultado obtido, não é tanto um edifício mas sim um “espaço”, que se pretenda que seja capaz de funcionar como motor de arranque para a reestruturação de toda a área envolvente.